Em meados de 1983, a Organização Mundial da Saúde tornou a clorexidina uma substância essencial para cuidado à saúde, e passou a ser considerada um antisséptico de primeira escolha.
A antissepsia elimina ou inibe o crescimento microbiano de tecidos vivos, como a pele. Os produtos empregados para realização da antissepsia são os antissépticos. A seleção dos antissépticos deve levar em consideração critérios como: redução significativa de microrganismos na pele intacta, preparação antimicrobiana não irritante, amplo espectro de atividade, ação rápida e persistente.
Os agentes antissépticos disponíveis no mercado são formulados à base de soluções aquosas, alcoólicas e solução com tensoativos (degermante), acrescidos de ingredientes ativos. Os antissépticos mais comumentes usados são clorexidina (CHG), idóforos e álcool.
A clorexidina age rompendo a membrana das células bacterianas, sendo sua ação dependente da concentração, possui efeito bacteriostático em baixa concentração, ou seja, evitando seu crescimento, e em altas concentrações é bactericida, causando a precipitação de seus conteúdos citoplasmáticos e eliminando os microrganismos. O CHG possui atividade de amplo espectro, que inclui microrganismos gram-positivos, gram-negativos, bactérias não formadoras de esporos, fungos e vírus de envelopes lipídicos. Possui atividade residual mais prolongada, em torno de 6 a 8 horas, e não é inativado na presença de matéria orgânica. Sua aplicação é contraindicada nas regiões genital, conjuntiva ocular, conduto auditivo e meninges, devido aos potenciais danos que causa nessas regiões.
Aplicação:
As IRAS consistem em eventos adversos, (EA), ainda persistentes nos serviços de saúde. Sabe-se que as infecções elevam consideravelmente os custos no cuidado do paciente, além de aumentar o tempo de internação, a morbidade e a mortalidade nos serviços de saúde.
A clorexidina acima de 0,3% deve ser considerada como princípio ativo e, portanto, é um medicamento de notificação simplificada, conforme a RESOLUÇÃO DA DIRETORIA COLEGIADA – RDC Nº 576, DE 11 DE NOVEMBRO DE 2021. A indicação de uso é encontrada também na Instrução Normativa DC/ANVISA Nº 106 DE 11/11/2021. Conforme a ANVISA e diversos guidelines como AORN e CDC, a clorexidina está presente como agente importante na prevenção de infecções relacionadas a Assistência à Saúde (IRAS). As IRAS consistem em eventos adversos ainda persistentes nos serviços de saúde. Sabe-se que as infecções elevam consideravelmente os custos no cuidado do paciente, além de aumentar o tempo de internação, a morbidade e a mortalidade nos serviços de saúde.
- Prevenção de Infecção do Trato Urinário.
A Clorexidina 1% e 2% aquosa podem ser usadas para antissepsia da mucosa antes da cateterização vesical.
- Prevenção de Infecção de Corrente Sanguínea
A Clorexidina 0,5% e 2% alcoólica são usadas antes da implantação do cateter periférico, central de curta permanência (banho de clorexidina 2% com tensoativos em paciente >2 meses em unidade neonatal/pediátrica), cateter central de inserção periférica (PICC), cateter semi-implantáveis ou tunelizados, cateter totalmente implantável, cateteres arteriais periféricos, dispositivos intraósseos e infusão subcutânea contínua (hipodermóclise).
Usa-se também Clorexidina 0,5% e 2% alcoólicas na punção de cateter totalmente implantável antes da punção com agulha e no curativo de troca de cobertura de cateteres centrais.
Cateter umbilical: Usar Clorexidina 0,5% alcoólica ou Clorexidina > 1% aquosa para antissepsia do coto e da região peri-umbilical. Utilizar tanto clorexidina aquosa e à base de álcool com precaução em recém-nascidos prematuros, recém-nascidos de baixo peso ao nascimento e dentro dos primeiros 14 dias de vida, devido aos riscos de queimaduras químicas na pele.
- Prevenção de Infecção Cirúrgica.
De modo geral, usar Clorexidina 0,5% e 2% alcoólica no preparo da pele antes do procedimento.
Usar Clorexidina 2% degermante, 2 horas antes do procedimento cirúrgico, em banho do paciente que será submetido à cirurgia de grande porte, cirurgias com implantes. Na higiene oral, nos casos em que houver previsão de entubação orotraqueal, fazer higiene oral com clorexidina 0,12%.
Investigação de portadores nasais de Staphylococcus aureus (OXA-S e OXA-R) no pré-operatório de procedimentos de alto risco: cirurgia cardíaca, ortopédica (implantes). Descolonização dos portadores nasais que serão submetidos a procedimentos de risco: banho de Clorexidina 2% degermante por 5 dias, 2x/dia, exceto em mucosas ocular e timpânica.
No preparo pré-operatório ou antissepsia cirúrgica das mãos, pode-se usar Clorexidina 2% degermante embebido nas escovas cirúrgicas, assim como PBA. A duração do procedimento deve ser de 3 a 5 minutos para o primeiro procedimento do dia e de 2 a 3 minutos para as cirurgias subsequentes, se realizadas dentro de 1 hora após a primeira antissepsia das mãos.
Usar Clorexidina 2% com tensoativos para preparo da pele do paciente, no intraoperatório, proceder ao enxágue com soro fisiológico, depois usar Clorexidina 0,5% ou 2% alcoólica antissepsia no campo operatório no sentido centrífugo circular (do centro para a periferia) e ampla o suficiente para abranger possíveis extensões da incisão, novas incisões ou locais de inserções de drenos.
- Prevenção Pneumonia Relacionada à Assistência à Saúde.
Referências:
- Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Medidas de Prevenção de Infecção Relacionada à Assistência à Saúde. Brasília: Anvisa, 2017.
- Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Instrução Normativa DC/ANVISA Nº 106 DE 11/11/2021.
- Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. RESOLUÇÃO DA DIRETORIA COLEGIADA – RDC Nº 576, DE 11 DE NOVEMBRO DE 2021
- Oliveira, AC, Gama, CS. O que usar no preparo cirúrgico da pele: povidona-iodo ou clorexidina? Rev. Sobecc, São Paulo. jul./set. 2018; 23(3): 155-159